


MEMORIAL DE FORMAÇÃO
“Minha filha, você já sabe assinar seu nome, já tá de bom tamanho.” Era essa a frase que eu ouvia de meu pai todos os anos que minha mãe, insistentemente, falava que ia à escola me matricular.
Meu nome é Aline de Oliveira Silva, nasci no dia 7 de Dezembro de 1995, em Capim Grosso, interior da Bahia. Sou filha de Adriano da Silva – in memorian - e Isabel Reis de Oliveira. Sou fruto do terceiro casamento do meu pai e do segundo da minha mãe, casamentos estes que me deram o saldo de onze irmãos. Sou filha única deste casamento, cresci numa fazenda chamado Angico, meu pai trabalhou por muito tempo no motor de sisal, quando nasci, porém, ele já estava aposentado como lavrador, minha mãe sempre foi dona de casa. A senhora Isabel cursou apenas até a 4ª série do ensino fundamental, o senhor Adriano, nunca freqüentou uma escola, mal conseguia assinar seu nome.
Minha infância foi linda porque tive pais que me amaram muito, porém, a maioria dos meus irmãos não aceitava o casamento dos meus pais e eu sempre fui alvo de críticas, parte deles não concluiu o ensino médio e por conta disso (talvez), não queriam que eu estudasse. Meu pai também não queria, mas eu não o culpo, ele não sabia o que a educação pode proporcionar ao indivíduo, infelizmente ele nunca teve acesso, minha mãe, ao contrário, sempre insistiu para que eu tivesse uma boa educação e me proporcionou isso dentro das suas limitações, claro.
Sempre estudei em escola pública, o fundamental I, cursei numa escola que ficava a dois quilômetros da minha casa, minha professora, com quem mantenho contato até os dias atuais, era maravilhosa, eu amava ir para a escola, amava o contato com meus colegas, mas lembro-me que eu nunca soube me defender direito, por isso não era raro apanhar dos colegas, na escola e na volta para casa. Infelizmente nunca tive uma boa recepção por parte das outras crianças, causa pela qual eu sofria bastante. Certo dia, voltando pra casa, um garoto mais velho que eu, colocou um camaleão dentro da minha blusa e eu desmaiei de medo, tenho pavor do animal até hoje.
Sofri muito nessa época, ás vezes chorava para não ir à escola, contudo fui a primeira aluna da classe, em questão de notas, nos quatro anos que estudei nesta escola, da primeira a quarta série, visto que não cursei o maternal por já dominar a leitura e a escrita quando fui para a escola.
A escola da fazenda não oferecia o fundamental II, comecei a estudar na cidade, na escola Municipal Tarcília Evangelista de Andrade, estudei nesta escola da quinta a oitava série, para minha surpresa, continue sendo a primeira da classe durante todo o fundamental II.
Nesse intermédio de término do fundamental e início do Médio, meu pai adoeceu – doença que o levou a óbito no último dia 31 de Dezembro de 2015 - e eu e minha família nos mudamos para a cidade, fomos morar de aluguel. Como nossa única renda era a aposentadoria do meu pai, eu precisava começar a trabalhar. Na época com 15 anos, trabalhava em uma loja de roupas no turno da manhã e estudava no turno da tarde, nesse momento eu senti medo de precisar abandonar os estudos para trabalhar e ajudar e casa, meu sonho sempre foi concluir a educação básica e ingressar no ensino superior. Minha mãe nunca permitiu que eu parasse, agradeço a ela por estar onde estou.
Cursei o ensino médio regular no Colégio Estadual Edna Moreira Pinto Daltro, também em Capim Grosso, e foi nesse colégio que eu percebi que meu sonho poderia tornar-se real. Tive professores maravilhosos, que se comprometiam com o seu trabalho e o fazia brilhantemente dentro das limitações da educação pública, continuei sendo a melhor da turma, graças a Deus, porque nesse tempo eu não apenas estudava, como também trabalhava. Enfim o terceiro ano chegou e foi o melhor da minha vida, eu era representante estudantil do terceiro ano vespertino, participava do projeto “Café com poesia” que era realizado uma vez por semana na cantina da escola.
Eu havia prometido ao meu pai que seria a melhor advogada que eu conseguisse ser, (pretendo cumprir), mas meus planos mudaram, minha professora de português do terceiro ano foi Sandra Dias, ela era tão maravilhosa que me inspirou a cursar Letras – Língua portuguesa e literatura, eu queria muito cursar direito, mas eu não tinha dinheiro para custear um cursinho pré-vestibular, não tinha computador e muito menos acesso a internet. Meus únicos meios de estudo eram módulos antigos que consegui emprestado, e as disciplinas escolares.
Decidi prestar o vestibular da Uneb para letras, fui aprovada.
Meu nome foi exposto em uma faixa na frente da escola. A alegria da minha mãe porque a filha iria cursar o ensino superior. Enfim meu sonho havia se realizado.
A vida acadêmica não é fácil, viajar duas horas todos os dias, inclusive aos sábados, para estudar torna ainda mais complicada. Mas os aprendizados que adquirimos, vale todo o esforço. Os componentes curriculares ampliaram minha visão a respeito do ensino, tive a sorte de ser aluna de grandes mestres apaixonados pelo que fazem e que são felizes em ajudar na melhoria da educação pública brasileira, foi na graduação também que conheci umas das minhas melhores amigas hoje, Joiane Santos.
No início de 2015, cursando o terceiro semestre, fui contratada por uma das melhores instituições educacionais, privadas, de Capim Grosso. O primeiro contato com a sala de aula foi apaixonante, depois vieram às dificuldades, a falta de experiência, mas eu sempre tentei me superar e ser ética com os indivíduos que agora eram meus alunos.
Atualmente no quinto semestre do curso, finalizando o segundo ano como professora, há uma alegria de poder contribui, nem que seja pouco, para a formação de outras pessoas e poder perceber o que a educação pode fazer na vida das pessoas. É triste perceber, porém, quão desvalorizada é esta profissão, a mais rica que qualquer outra. Em uma palestra na universidade ouvi uma professora dizer que professor é a única profissão que nos possibilita aprender enquanto supostamente ensinamos.
Essa é a magia da profissão, aprendemos muito mais do que ensinamos, é essa a paixão pelo curso. Ser professor é perceber o outro, perceber seu potencial e criar meios para que este indivíduo cresça e se desenvolva. Ser professor é melodia em que pouquíssimas letras se encaixam.
Sou grata a Deus por ter permitido que a minha vida se interligasse com esta profissão tão sublime, grata a academia pela formação teórica e grata aos meus alunos que me proporcionam viver essa arte de ensinar e aprender todos os dias na prática.