
Universidade do Estado da Bahia – UNEB
Departamento de Ciências Humanas- DCH IV
Curso de Letras Vernáculas
Docente: Ana Lúcia Gomes da Silva
Discentes: Maynara Costa, Debora Fonseca, Ilma, Silva, Cassia Barbosa, Julho Oliveira e Marta Miranda
Estágio de observação com intervenção
Trilha educativa
Preparação da Trilha
Após findarmos o período de observações na Escola Padre Alfredo Haasler, especificamente nas turmas 6º ano A e B, 7º ano A e B, 8º ano A e 9º ano A, partiremos para elaboração de uma trilha educativa, que são caminhos pedagógicos em que os campos de conhecimento se organizam como contextos temáticos, permitindo uma integração entre a escola e a comunidade/cidade.
Dentre as turmas observadas, decidimos aplicar essa trilha na turma do 7° ano A, por ter sido a classe que mais tivermos contato e por considerar, nas observações, que esta nos marcou pelas capacidades evidentemente destacadas nos alunos, mas apesar disso, se restringiam a si próprios. Quando conversamos com a professora regente, ela nos pontuou ser uma turma bastante agitada e que a maior dificuldade deles, era conseguir dialogar, esperar os momentos de fala e saber ouvir.
Por isso, temos a proposta de elaboração de uma TV, confeccionada pelos alunos em conjunto com os estagiários. Dividiremos a sala em 4 equipes e cada equipe escolherá uma das temáticas (Futebol, música, jogos e games, novela, moda, filmes e séries, jornal, educação na escola, redes sociais) oferecidas por nós para ser apresentada num PROGRAMA DE TV, em que eles darão nome e formato.
Daremos direcionamento de como eles prepararão as atrações desse programa, fazendo entrevistas ao vivo, trazendo depoimentos, notícias, fofocas da comunidade, novidades, bate-papo, informações, encenações, etc. As atrações ficarão a critério dos alunos, mas devem está em consonância com o tema escolhido.
Objetivamos nessa intervenção, trabalhar a oralidade dos alunos considerando as características e variações linguísticas e culturais trazidas por eles.
Segundo os PCN a escola é responsável por ensinar a Língua Portuguesa em suas habilidades básicas, e este ensino deve verter por dois eixos: Língua Oral e Língua escrita apontando seu uso e forma. Maria Lúcia de Castro Gomes também ressalta que “antes de tudo, ao trabalhar a oralidade na sala de aula, é preciso respeitar a variedade de língua do aluno”, por isso tivemos essa preocupação na elaboração da trilha educativa.
Além disso, pretendemos demonstrá-los as adequações que necessitamos fazer em determinados contextos de comunicação e linguagem. Para os PCN isso é de fundamental importância, considerando que diante de diferentes interlocutores, o exercício de ensinar-lhes exige um empenho e conhecimento maior e mais profícuo.
Para essa atividade faremos uso de pelo menos três tipos das diversas possibilidades de comunicação oral, conforme Vanoye:
O diálogo - esse tipo de oralidade dar-se-á durante todo o processo do exercício, entre eles, entre a comunidade e na apresentação;
Entrevista - nos casos em que os alunos elaborarão questionários a serem realizados à comunidade;
Reunião e discussão – Quando o grupo se reunir para discussão do tema, das escolhas de atrações, programações, tomadas de decisões, etc.
Além disso, como diz Gomes, a leitura e a escrita são práticas que se relacionam e se complementam, por esse motivo, traremos a importância da leitura na oralidade, pois a todo o tempo os alunos farão leituras de informações sobre os temas, respostas de entrevistas, leitura imagética, entre outros.
Esperamos que os alunos interajam o quanto puderem, e possam aproveitar a ocasião para desenvolver suas competências e habilidades apreendidas ao longo de seus estudos até aqui. Também é um momento oportuno para que estes alunos possam liberar suas energias que, muitas vezes, ficam presas em suas carteiras, sob prescrições e limites no exercício de suas ações.
Aplicação e resultados:
Começamos essa etapa falando sobre algumas dificuldades encontradas e que por causa delas tivemos consequências e resultados que poderiam ser melhores. Apesar de observamos essa turma mais de uma vez, percebemos que foi um período curto para conhecer o rendimento da turma, eles eram ativos, em sua maioria, espertos também, mas não sabíamos até onde. Além disso, não sabíamos até que ponto a escola dialogava com a comunidade.
Agda Sandenberg afirma em seus escritos que
“É a partir do que o estudante já conhece, das suas curiosidades, do que deseja conhecer, ou de questões da comunidade que o instigam, que se estabelece o mote do projeto e as habilidades e competências previstas para aquele ciclo de ensino específico”.
Outra implicação, uma das maiores, foi relacionada ao tempo de desenvolvimento da trilha. O prazo estabelecido pela academia de realizarmos a trilha foi curto, sendo assim, podemos afirmar que foi um processo corrido, mesmo depois de a professora regente da turma ter cedido mais do que o combinado para sua realização.
No total foram cinco aulas. Destas, duas, foram para apresentação da proposta, assim os alunos tiveram autonomia para aceitarem ou não. Eles aceitaram. Em seguida partimos para os encaminhamentos tirando as duvidas, dividindo as equipes, escolhendo os temas propostos, mas eles também tiveram liberdade de outras escolhas.
As suas decisões foram em conjunto e democrática. A nossa exigência era de que as suas escolhas fossem significativas e fizessem sentido para eles. Para agirmos dessa maneira, partimos da fala de Sandenberg que diz:
Ao trabalhar em uma perspectiva democrática, o educador estimula os estudantes a trazerem elementos de sua vida cotidiana durante todo o processo de pesquisa [...]. Tal postura é muito diferente da que, costumeiramente, está presente em uma sala de aula convencional.
Nós concordamos com essa fala, mas é preciso ter muito cuidado ao deixar o aluno livre de escolhas, principalmente numa faixa etária entre 12 e 15 anos, como foi nosso caso.
Tivemos uma experiência que nos fizeram refletir sobre isso, a nomeação da TV. Pedimos que os estudantes descem algumas sugestões de nome para ela. Percebemos que, de início, eles estavam um pouco envergonhados, talvez por não crerem que tinham autonomia para isso. Mas passado esse momento, que foi rápido, a turma começou a falar, a gritar, indisciplinadamente. Por fim, o quadro foi tomado por títulos como: “Treta, Treta News, O quê?, Arroz Feijão e Batata, entre outros”). Houveram muitas abstenções, mas o título escolhido foi o último citado acima. A professora regente estava presente.
Sem saber o que aquele título (arroz, feijão e batata) significava, pedimos para que algum aluno que o escolheu explicasse o motivo. Um aluno logo levantou-se e contestou a escolha. Nós achamos estranho e dissemos a ele que foi decidido de forma democrática. Foi então que esse mesmo aluno nos alertou dizendo que o título se tratava de uma música pornográfica. Ficamos paralisados, não esperávamos isso. Enquanto isso a turma decidiu optar por outro título, assim o nome escolhido foi “TV O QUÊ?”.
Dando continuidade, os alunos se reuniram e discutiram as escolhas temáticas que fizeram. Passamos por todas as equipes tirando dúvidas e dando sugestões de pesquisa e ações. Em seguida, não havendo mais nenhuma questão, segundo os alunos, finalizamos este primeiro encontro, deixando claro que as apresentações seriam na próxima semana, eles acharam o tempo curto, mas não tínhamos escolha.
No segundo encontro de apresentações, uma semana depois, antes de entrarmos em sala alguns alunos já nos abordaram dizendo que não haviam feito a atividade, os discursos foram diversos: “Eu nem sabia quanto valia”, “eu não tive tempo”, “eu sair da equipe”, “eu esqueci o pen drive”, “ eu já estou passado/a.”
Ficamos um tanto quanto surpresos. Tivemos uma boa aceitação no primeiro encontro, esperávamos que todos apresentassem. Apenas três equipes apresentaram. A temática de Filmes, exposta apenas por um alunos em que este fez uma seleção de dois filmes de ação populares. Ele trouxe os trailers, e os exibiu. Exemplificou bem o que queria, mas ficou um pouco receoso em falar sobre eles. O som também o prejudicou, pois o da escola estava com problemas e passamos no próprio computador. No geral, a sala se comportou e prestou atenção.
Em seguida, vieram os alunos que apresentaram sobre moda. Eles resolveram fazer um desfile de anos 80 e da atualidade. Duas alunas apresentaram adequando-se ao contexto de fala da temática, elas confeccionaram microfones e estavam bastante empolgadas. Os demais apenas desfilaram e exibiram seu figurino, assim também como “caras e bocas”. Foi interessante observar que outras equipes se entrosaram em ajudar no figurino, na organização das entradas, etc. Percebemos também o cuidado de pesquisar e tentarem chegar o mais próximo do estilo da época em que fariam a demonstração.
A Terceira equipe, que escolheu a temática de dança, dançou uma música atual, vimos que elas se prepararam bem para dançar, mas não fizeram introdução apresentando-se a si mesmas, estilo, nome da música, etc.
No geral, as apresentações foram boas. A turma estava bastante agitada e aqueles que não se prepararam estavam dispersos, mas participaram como espectadores, aplaudindo quando gostavam do que viam e criticando como todo comentarista crítico. Nesse dia a professora não estava presente, talvez por isso estivessem mais “soltos”.
A professora compareceu ao final da aula, e deu a oportunidade aos alunos que não haviam se preparado, de se apresentarem na próxima semana, em apenas uma aula, também deu a oportunidade de fazermos uma reflexão e um fechamento com eles.
No terceiro e último encontro, tivemos mais três equipes. A primeira dupla trouxe um vídeo com as músicas sertanejas mais populares do país. Apenas uma aluna, muito timidamente, fez a apresentação das músicas. A turma, demostrou não ter gostado da seleção, conforme as canções foram passando, os espectadores faziam comentário do tipo: “Cadê as músicas?”, “Isso é música?”, “Cadê as músicas boas?”, “Até que enfim uma que presta”. A aluna/apresentadora ficou um pouco constrangida pela seleção que trouxe, por isso, nós a ajudamos dizer que cada um tinha um gosto musical, que há uma diversidade de música justamente para que escolhamos as que mais nos agradam.
A segunda equipe veio com uma dança, duas das alunas, inclusive, já haviam apresentado na semana passada, segundo elas, era a continuação. Exibiram-se da mesma forma e foram muito aplaudidas pelo público.
A terceira e última equipe veio com a uma surpresa e alívio para nós. No decorrer das apresentações, nos perguntamos muito se eles tinham realmente entendido a proposta de intervenção, porque nas equipes que até aqui se apresentaram, havia faltado uma interação maior com a comunidade. É certo que no próprio espaço escolar eles chamaram atenção de colegas de outras turmas (que por sinal, os prestigiaram, mas foram convidados pela professora regente a se retirarem da sala, visto que naquele momento estavam tendo outra aula), porém, faltou a interação com a família, com mais leituras, com o entorno escolar, etc. Percebemos que eles conseguiam estabelecer essa relação. É como se não fizesse sentido algum. Mas voltando a equipe final, elas conseguiram. Elas produziram um vídeo jornalístico, com linguagem adequada ao contexto, fizeram leituras e pesquisas, deram opiniões, se mostraram compromissadas com o trabalho e isso nos contagiou.
A equipe de Jogos e games não conseguiu apresentar e alguns alunos também não se entrosaram a participar. Mas podemos que concluir que foi uma experiência marcante, em que pudemos vivenciar alguns conhecimentos adquiridos somente com a prática. Exercemos a paciência, a confiança um no outro, a proeza de ensinar e aprender junto com eles. Foram momentos, que pela pouca experiência, nos fizeram hesitar em alguns aspectos teóricos e nos fez pensar que em sala de aula devemos estar preparados para tudo. E muitas vezes essa preparação, significa estar livre, livre de pré-julgamentos, de más expectativas, de preconceitos, enfim.
Nos pegamos preocupados com o “barulho” que os alunos fizeram durante a trilha, por vezes fomos alertados pela professora a atribuir menos liberdade a eles e mostrar-lhes mais imposição. Uma funcionária da escola chegou a ir na sala e pedir que eles se comportassem melhor enquanto estivéssemos lá. Nós agradecemos a preocupação, mas dissemos que aquela agitação fazia parte do processo, era um movimento de interação e de conversa.
Aparentemente, a sala parecia estar fora de controle, mas a participação intensa dos estudantes é um momento especial da trilha. Segundo Sandenberg, “Não é possível esperar que os estudantes permaneçam todo o tempo silenciosos ou organizados da mesma maneira; Uma diversidade de ritmos se justapõe em qualquer agrupamento humano [...]”.
Foi relevante a atividade da trilha educativa, e entendemos que é um processo contínuo. A partir desta que fizemos, podemos refletir para uma outra e sempre buscando se aprimorar em nossas ações, a partir dos aprendizados adquiridos em diferentes espaços.
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