
Educação Básica no Brasil e a identidade do fazer docente
Na contemporaneidade é notório que a Educação Básica vive uma crise de “qualidade”, através dos mais variados indicadores, em diferentes processos de avaliação, em âmbitos regionais, nacionais ou internacionais, parecem tornar tal fato indiscutível. No cotidiano escolar isso fica mais evidente através das precárias condições materiais, a formação e a dedicação de muitos professores deixam a desejar, os currículos são inadequados, os recursos disponibilizados não são suficientes, os alunos não parecem interessados, as condições familiares e socioeconômicas não contribuem para uma participação efetiva dos pais na vida escolar dos estudantes, etc.
Percebe-se também que, não faltam planos de ações governamentais visando o enfrentamento dos problemas, mas seus efeitos têm sido muito modestos, e suas promessas costumam ser, aos poucos, esquecidas. Contudo, é certo que a melhoria na qualidade do ensino requer bons professores. Docentes comprometidos com a difícil tarefa de ensinar que, por sua vez, exige dos profissionais sentido e responsabilidade, ou seja,“só existe melhora na educação se houver melhora na formação dos professores”
A formação do professor é constituída por etapas, que são consideradas inter-relacionadas e funcionam como componente fundamental na construção da identidade profissional. Ela é um processo complexo, marcado pela divisão entre o tempo e o espaço, desenvolvimento profissional e pessoal, colaboração e envolvimento coletivo, ou seja, ela se dá pelos processos ideológicos e pedagógicos.
“A identidade não é imutável, nem externo, que possa ser adquirido como uma vestimenta. É um processo de construção do sujeito historicamente situado” (NÓVOA, 1995). Partindo desse pressuposto a formação da identidade doprofissional docente é determinante para o seu bom ou mau desempenho em sua trajetória educacional. Ela se constitui como uma interação entre a pessoa e suas experiências individuais e profissionais. A identidade está ligada as múltiplas experiências, história de vida, formação e prática docente. Sendo assim, ela se constrói e se transmite. Existindo algumas características ou constantes da identidade profissional docente que se repetem e que são, geralmente, independentes do contexto social ou cultural.
O processo de formação envolve toda bagagem adquirida com as vivencias e experiências pessoais e através da pratica em sala de aula. Como cita Freire, Este desafio é uma constante em nossas vidas de educadores, quer como pessoas no mundo, quer como profissionais responsáveis socialmente pela concretização do processo educativo escolar. Além disso, é preciso considerar que o professor aprende, ensinando; ensina, aprendendo (FREIRE, 1999). Ou seja, esse processo envolve muito mais do que se possa imaginar, ser professor vai além de uma simples profissão, pois, há uma necessidade de reinventar-se, de esta sempre buscando novas formas de ensinar, de adaptar-se, as novas gerações de indivíduos e a todas as mudanças que ocorrem ao passar do tempo, por isso o ramo da docência necessita de uma formação continua.
É pela ação interativa com as dimensões materiais e simbólicas da realidade social em que se encontra inserido, pelas experiências individuais e coletivas tecidas no mundo vivido, que o professor intervém de modo criativo e autocriativo em sua relação com os outros e com o universo do trabalho. Enfim, ele exerce sua humanidade como ser de relações consigo (individualidade), com os outros (sociabilidade) e com o mundo em sua volta (FARIAS, 2006).
Compreendendo e refletindo acerca da prática docente, percebemos a multiplicidade das funções do professor, e como é construída sua identidade, que não é apenas profissional, mas é participante de toda uma história de vida. Acaba então o profissional docente levando suas responsabilidades didáticas para todo o seu convívio, social, familiar, religioso.
Dessa forma o professor acaba construindo em seu trabalho um vínculo “humano” em que se torna responsável pela formação humana de cada sujeito por preparar seus alunos para uma vida crítica e reflexiva.
Compreende-se a valorização diminuída do profissional e como é difícil se manter na docência sem se construir com múltiplas funções, e se envolver não apenas no ensinar, mas no conviver e também aprender. O profissional docente se transforma em personagem permanente e onde quer que vá, será sempre o professor, educador, responsável por continuar uma história de vida na qual se aprende ensinando.
De modo geral, consideramos que a carreira docente exige do professor uma constante produção e mobilização de saberes na sua prática. Ela pressupõe, muito além da competência técnica, uma dedicação extrema e um compromisso público com os projetos e os valores socialmente acordados em prol da Educação Básica. De modo comparado ao dos profissionais da saúde e da justiça, os professores não poderiam estar submetidos apenas à lógica e às exigências do mercado, não deveriam ser remunerados como se produzissem automóveis ou alfinetes. Mas, como um sujeito que mantém viva (em cada cidadão) a esperança no futuro, por meio da lembrança de que não é possível separar a educação da cultura, a razão prática dos sentimentos, nem a economia da poesia, ao tratar da crise e da qualidade da Educação Básica.
GD1: Adilson Matos, Aline Oliveira, Angélica Magalhães e Carina Pires