Universidade do Estado da Bahia
Departamento de Ciências Humanas - Campus IV
C.C.: Estágio I
Professora/orientadora: Ana Lúcia Gomes
Componentes: Maynara Costa, Debora Martins, Ilma, Silva, Julho Oliveira, Cássia Barbosa e Marta Miranda
UN
Relatório pedagógico
A escola como ponto de partida-chegada
Trabalho requerido pela Professora orientadora de Estágio I, Ana Lúcia Gomes da Silva, para a turma do 4º semestre do curso de Letras Vernáculas, a ser apresentado no Seminário Interdisciplinar de Pesquisa V.
Jacobina-BA
2017
RESUMO
A experiência de estágio leva-nos a mais de uma reflexão: refletimos sobre a prática do outro, sobre a sociedade, sobre a contemporaneidade, sobre a receptividade dos alunos e a que consideramos mais importante e que deve anteceder qualquer outra, refletimos sobre nós mesmos/as.
Umas das concepções de estágio trazidas por PIMENTA e LIMA (2012) é que o desenvolvimento do estágio deve partir de uma atitude investigativa, que envolve a reflexão e a intervenção na vida da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade. Assim, também, entendemos que este seja um lugar de compreensão do nosso papel como futuros professores e um espaço de aprofundamento de conhecimentos sobre a nossa ação na escola e fora dela. Dessa forma, esse trabalho, tem como proposta apresentar os relatos de experiências vivenciadas nesse primeiro momento de observações, na escola estadual Padre Alfredo Haasler, bem como trazer os resultados obtidos com a intervenção da trilha educativa desenvolvida naquele espaço. Também traz algumas compreensões e reflexões realizadas pelas discentes.
INTRODUÇÃO
O exercício de observação, embora parecesse ser mais simples do que a prática, nos surpreendeu pela ampla complexidade. Ouvir, perceber, analisar, refletir e registrar, foram etapas árduas que nos deixaram pensativos ao considerar o que, de fato, fosse relevante ou não. Outro aspecto implicador é fazer-se manter a imparcialidade. Nenhum ser humano é neutro, livre de opiniões sobre o que está à sua volta, por isso quando observamos, além de estabelecer juízo sobre o outro e o que nos rodeia, levamos as nossas recordações, pensamentos e intenções para aquilo que vemos e ouvimos. Portanto, a observação participante se deu por entender que o contato direto com o fenômeno observado nos proporcionaria a descrição de situações apresentadas, revelaria os seus múltiplos sentidos e significados através da aproximação com os sujeitos, de suas experiências diárias em seus contextos de atuação.
A dificuldade está justamente em encontrar um ponto de equilíbrio em que nossa construção pessoal não interfira na investigação a ponto de prejudicar a reflexão e as contribuições adquiridas. É preciso analisar com cautela, ter uma visão panorâmica, desprovidos de estereótipos e pessimismos, sem nos fecharmos em nós mesmos. É preciso lembrar sempre que estamos em sociedade, o ambiente é plural, há uma diversidade grande e elas devem ser respeitadas.
Para tal, como nos aponta Weiz (200, p. 129), quando explana que:
O ato de refletir por escrito possibilita a criação de um espaço para que a reflexão sobre a prática ultrapasse a simples constatação. Escrever sobre alguma coisa faz com que se construa uma experiência de reflexão organizada, produzindo, para nós mesmos, um conhecimento mais aprofundado sobre a prática, sobre as nossas crenças, sobre o que sabemos e o que não sabemos.
Foi exatamente este o objetivo central do Estágio de Observação como campo do conhecimento, portanto da pesquisa, visando uma reflexão organizada, sistêmica, além da simples constatação da prática pedagógica desenvolvida pelas docentes observadas, mas sobretudo, a reflexão de como faríamos se estivéssemos no seu lugar. Como nos ocuparíamos da docência, dos seus saberes e desafios?
A itinerância em campo na escola parceira: aprendizados iniciais
Os encontros aconteceram na Escola Estadual Padre Alfredo Haasler em seis turmas diferentes, 6º ano A e B, 7º ano A e B, 8º ano A e 9º ano A. Com isso, analisamos as aulas das três professoras que ministravam as disciplinas de Língua Portuguesa e Linguagens da escola. Totalizaram-se 20 horas/aula. Os nomes das docentes serão preservados, chamarem-nas de P1, P2, P3, para garantir o sigilo e preservar suas identificações. Entendemos que o mais importante são as reflexões que fizemos durante as observações. Por percorremos em muitas turmas faremos uma explanação breve sobre elas, na tentativa de fazer uma reflexão de um modo geral e posteriormente apresentarmos aspectos considerados mais relevantes.
Com a professora P1 observamos as turmas do 6° ano A, 7º ano A e B, 8° ano A. Não é fácil apresentar de modo genérico e resumido as reflexões dessas turmas, principalmente pela singularidade que cada uma representa. Portanto, traremos alguns momentos que nos chamaram atenção e nos fizeram repensar sobre a prática docente, no que se refere a seus enfrentamentos e suas possibilidades.
Análise P1
Na classe do 6º ano A, a disciplina ministrada foi de Linguagens. O tempo de observação não foi longo, tivemos apenas um contato e este foi muito objetivo, era dia de avaliação. O espaço da sala não era proporcional à quantidade de alunos, aliás, em quase todas as salas isso é realidade, visto que o próprio espaço escolar como um todo é bastante limitado. O momento não foi muito tranquilo, os alunos tinham acabado de voltar do intervalo e estavam energéticos ainda. Após entrega da avaliação escrita, a professora seguiu lendo as instruções. Assim que ela terminou a leitura, um aluno, que por mais que tentasse não se acomodava. Levantou informando que havia feito a prova. Logo após, cerca de cinco minutos, mais quatro se levantaram, a pró fez a chamada e os liberou para casa. Mas esse acontecimento chamou atenção da direção e fez com que a diretora de dirigisse até a sala. Ela questionou a professora e os alunos o tempo insuficiente para realização de uma prova, eles, os alunos , que já haviam concluído, tentavam se defender explicando que a avaliação era de Linguagens e era de “marcar”. Pudemos perceber o constrangimento da professora ao ser desautorizada ao liberar os alunos para casa. Por volta de 20 minutos, todos os alunos haviam concluído a prova. Não avaliamos quem estava certa ou não, mas acreditamos que os alunos que ainda estavam realizando a avaliação poderiam ser poupados, um diálogo reservado entre as duas, poderia ser mais o mais correto. Percebe-se a dificuldade do professor no exercício de sua autonomia em sala, que muitas vezes é limitada.
Uma possível alternativa, para que os alunos tivessem mais responsabilidade e atenção na execução da prova, seria ler toda a prova, não apenas as instruções, tentando esclarecer ao máximo as perguntas, talvez assim, com os alunos acompanhando a leitura, dúvidas que porventura surgissem, pudessem ser sanadas. Caminhar pela prova é importante tanto para o professor, que reflete sobre ela, tanto para os alunos que não só exercita nela o que aprendeu, mas aprende com ela também.
A turma do 7º ano A, foi a turma que tivemos mais contato. Por esse motivo e por outros, realizamos a nossa intervenção de estágio nela, baseada nas trilhas educativas. Essa foi uma turma que nos marcou pelas capacidades evidentemente destacadas nos alunos. Podemos, ousadamente, caracterizá-los com as seguintes palavras: curiosos, espertos, contemporâneos, espontâneos, autênticos e singulares. O entrave, é que alguém precisa dizer isso para eles. Pois, não obstante tudo isso, alguns parecem não acreditar em suas capacidades enquanto estudantes, outros, parecem não conseguir interagir com os assuntos trabalhados, os interesses apresentam-se ser muito próprios a cada um deles.
As aulas que acompanhamos foram muito objetivas. Na maioria das vezes, eram correções de atividades. A professora buscava um diálogo com a turma, mas nem sempre obtinha êxito, pois, apesar de a turma ser participativa, tinha dificuldade em organizar falas e de ouvir um ao outro, então, o que era para ser interativo acabava por ser expositivo, apenas com a voz da professora, geralmente com os comandos de pedido de silêncio da professora. Na turma 7° ano B, os alunos se mostravam muito brincalhões e se dispersavam muito rápido. Mas na parte inferior da sala haviam alunos desintegrados, com um aspecto de timidez. Em um dos encontros da aula foi de entrega e correção de avaliação, e pelo que vimos, as reações não foram muito boas. Dois alunos pediam, incessantemente, para que a professora anulasse a prova. Ela deu início a correção, contudo, não foi participativa. Ela tentava fazer com que houvesse interação, mas não conseguia, pois à medida que perguntava, ela mesma respondia, tinha um gabarito próprio, em que julgava suas respostas como únicas e corretas. As respostas que não fossem claras, objetivas e bem escritas, eram descontadas pontuação.
No geral, os estudantes mostravam-se pouco motivados, em uma sala de 25 a 30 alunos, somente uma pequena parcela de alunos, de 6 a 10, pareciam estar dispostos a ouvir e obedecer ao que a professora pedia.
No 8° ano A, os alunos e a professora se articulavam bem. Ela conseguia estabelecer um vínculo com os estudantes, mesmo aqueles que eram tímidos. As aulas que aqui observamos também foram objetivas, sempre para correções de atividades. Nessa turma, conseguimos ver uma participação maior de alunos. Eles eram atenciosos. Havia, aqueles alunos que pareciam estar com o pensamento em outro lugar, um desenhando, outro com cabeça baixa, não temos como inferir se sempre são assim, até mesmo pelo pouco tempo de observação realizada, foram apenas impressões dessa aula em especial. Alguns estavam dispersos, pois este era um exercício impresso e nem todos tinham o mesmo. A professora se recusou a emprestar a quem não tinham, ela alegou que precisavam ser mais responsáveis.
Nessa turma também havia a presença de uma aluna surda e de uma intérprete de Libras. A turma aparentou estarem bem acostumada com a presença delas. Mas o que pudemos perceber é que a estudante surda não interagia com seus colegas e nem com a professora, quando acontecia de ter alguma dúvida, a professora se dirigia até a carteira das duas e conversavam. A intérprete estava sempre sentada à frente da aluna surda e apresentava ser, além de mediadora entre as línguas (LP e Libras), um apoio especializado para ela.
Análise P2
Com a professora P2, observamos a turma do 6° ano B. As considerações que fazemos dessa turma são positivas. Por mais que tentemos ser imparciais, não podemos deixar de dizer que o que vimos nessa turma nos fizeram crer, mais ainda, que há esperança no ensino público de qualidade, pois isso deve-se, em grande parte, ao compromisso e a competência do profissional que nela atua . A turma passava por um processo de apresentações de um projeto intitulado “Ciranda de leitura”, realizado pela professora regente em conjunto com os seus alunos. Chegamos num momento em que eles já haviam dado início às atividades. A professora propôs a leitura de livros que os estudantes escolheram, depois disso, eles socializaram o que apreenderam, porém, não foram feitas cobranças, a leitura foi aí apresentada como uma fonte de fruição e deleite.
Na socialização, os alunos ficaram muito interessados em uma apresentação em particular, em que o livro lido pela aluna falava sobre a África, chamado “As panquecas de Mamapanha” então decidiram junto com a professora que gostariam de ampliar esse trabalho, dialogando com outras disciplinas, como a geografia e trazendo brincadeiras africanas. Na aula que observamos essas brincadeiras estavam sendo apresentadas e foi muito interessante perceber o envolvimento dos alunos e o carinho que nutriam pela professora. Através do respeito ela conseguia a atenção e a aula fluía com naturalidade. Apesar de ter ocorrido muita movimentação e vozes alteradas, o que é salutar em aulas cujas discussões se fazem participativa. A aula ocorreu de forma leve e descontraída, a professora entendeu que fazia parte e deixou com que eles se expressassem da maneira que sabiam, mostrando que através de brincadeiras também se ensina e se aprende.
Logo após, foram feitas as correções de questões do livro que estavam baseadas no gênero propaganda. A professora ouviu e acatou as opiniões dos alunos. As questões envolviam interpretação e através do texto tratava também do ensino gramatical, foi muito interessante notar aquilo que Antunes observou, quando disse que o ensino da gramática deve ocorrer a partir do texto e não por frases isoladas e descontextualizadas. O texto foi o objeto de ensino da aula e a partir dele tudo ocorreu.
Análise P3
Com a professora P3, observamos as aulas do 9° ano A. Nelas, observamos o quão é importante as estratégias desenvolvidas pelas professoras para fazer com que o conhecimento chegue até o aluno. Essa professora trabalhou com artigo de opinião e através deste começou a trazer diferentes questões que podem possibilitar a construção de um texto argumentativo. Os alunos por serem mais maduros, fizeram com que a aula fosse bastante produtiva. Um aspecto que também nos chamou atenção foi a de a professora ser bastante verdadeira naquilo que acredita, ela fazia questão de expor sua opinião cada vez surgia um tema polêmico, fosse familiar, político, religioso, deixava marcado para os alunos suas ideologias. Sobretudo, destacava o direito e dava a oportunidade para quem quisesse concordar ou não. Foi uma aula que envolveu assuntos atuais e que dialogou com as mídias, bem como, com outras disciplinas.
Trilha Educativa
Após findarmos o período de observações na Escola Padre Alfredo Haasler, especificamente nas turmas 6º ano A e B, 7º ano A e B, 8º ano A e 9º ano A, partiremos para elaboração de uma trilha educativa, que são caminhos pedagógicos em que os campos de conhecimento se organizam como contextos temáticos, permitindo uma integração entre a escola e a comunidade/cidade.
Dentre as turmas observadas, decidimos aplicar essa trilha na turma do 7° ano A, por ter sido a classe que mais tivermos contato e por considerar, nas observações, que esta nos marcou pelas capacidades evidentemente destacadas nos alunos, mas apesar disso, se restringiam a si próprios. Quando conversamos com a professora regente, ela nos pontuou ser uma turma bastante agitada e que a maior dificuldade deles, era conseguir dialogar, esperar os momentos de fala e saber ouvir.
Por isso, temos a proposta de elaboração de uma TV, confeccionada pelos alunos em conjunto com os estagiários. Dividiremos a sala em 4 equipes e cada equipe escolherá uma das temáticas (Futebol, música, jogos e games, novela, moda, filmes e séries, jornal, educação na escola, redes sociais) oferecidas por nós para ser apresentada num PROGRAMA DE TV, em que eles darão nome e formato.
Daremos direcionamento de como eles prepararão as atrações desse programa, fazendo entrevistas ao vivo, trazendo depoimentos, notícias, fofocas da comunidade, novidades, bate-papo, informações, encenações, etc. As atrações ficarão a critério dos alunos, mas devem está em consonância com o tema escolhido.
Objetivamos nessa intervenção, trabalhar a oralidade dos alunos considerando as características e variações linguísticas e culturais trazidas por eles.
Segundo os PCN a escola é responsável por ensinar a Língua Portuguesa em suas habilidades básicas, e este ensino deve verter por dois eixos: Língua Oral e Língua escrita apontando seu uso e forma. Maria Lúcia de Castro Gomes também ressalta que “antes de tudo, ao trabalhar a oralidade na sala de aula, é preciso respeitar a variedade de língua do aluno”, por isso tivemos essa preocupação na elaboração da trilha educativa.
Além disso, pretendemos demonstrá-los as adequações que necessitamos fazer em determinados contextos de comunicação e linguagem. Para os PCN isso é de fundamental importância, considerando que diante de diferentes interlocutores, o exercício de ensinar-lhes exige um empenho e conhecimento maior e mais profícuo.
Para essa atividade faremos uso de pelo menos três tipos das diversas possibilidades de comunicação oral, conforme Vanoye:
O diálogo - esse tipo de oralidade dar-se-á durante todo o processo do exercício, entre eles, entre a comunidade e na apresentação;
Entrevista - nos casos em que os alunos elaborarão questionários a serem realizados à comunidade;
Reunião e discussão – Quando o grupo se reunir para discussão do tema, das escolhas de atrações, programações, tomadas de decisões, etc.
Além disso, como diz Gomes, a leitura e a escrita são práticas que se relacionam e se complementam, por esse motivo, traremos a importância da leitura na oralidade, pois a todo o tempo os alunos farão leituras de informações sobre os temas, respostas de entrevistas, leitura imagética, entre outros.
Esperamos que os alunos interajam o quanto puderem, e possam aproveitar a ocasião para desenvolver suas competências e habilidades apreendidas ao longo de seus estudos até aqui. Também é um momento oportuno para que estes alunos possam liberar suas energias que, muitas vezes, ficam presas em suas carteiras, sob prescrições e limites no exercício de suas ações.
Aplicação e resultados:
Começamos essa etapa falando sobre algumas dificuldades encontradas e que por causa delas tivemos consequências e resultados que poderiam ser melhores. Apesar de observamos essa turma mais de uma vez, percebemos que foi um período curto para conhecer o rendimento da turma, eles eram ativos, em sua maioria, espertos também, mas não sabíamos até onde. Além disso, não sabíamos até que ponto a escola dialogava com a comunidade.
Agda Sandenberg afirma em seus escritos que
“É a partir do que o estudante já conhece, das suas curiosidades, do que deseja conhecer, ou de questões da comunidade que o instigam, que se estabelece o mote do projeto e as habilidades e competências previstas para aquele ciclo de ensino específico”.
Outra implicação, uma das maiores, foi relacionada ao tempo de desenvolvimento da trilha. O prazo estabelecido pela academia de realizarmos a trilha foi curto, sendo assim, podemos afirmar que foi um processo corrido, mesmo depois de a professora regente da turma ter cedido mais do que o combinado para sua realização.
No total foram cinco aulas. Destas, duas, foram para apresentação da proposta, assim os alunos tiveram autonomia para aceitarem ou não. Eles aceitaram. Em seguida partimos para os encaminhamentos tirando as duvidas, dividindo as equipes, escolhendo os temas propostos, mas eles também tiveram liberdade de outras escolhas.
As suas decisões foram em conjunto e democrática. A nossa exigência era de que as suas escolhas fossem significativas e fizessem sentido para eles. Para agirmos dessa maneira, partimos da fala de Sandenberg que diz:
Ao trabalhar em uma perspectiva democrática, o educador estimula os estudantes a trazerem elementos de sua vida cotidiana durante todo o processo de pesquisa [...]. Tal postura é muito diferente da que, costumeiramente, está presente em uma sala de aula convencional.
Nós concordamos com essa fala, mas é preciso ter muito cuidado ao deixar o aluno livre de escolhas, principalmente numa faixa etária entre 12 e 15 anos, como foi nosso caso.
Tivemos uma experiência que nos fizeram refletir sobre isso, a nomeação da TV. Pedimos que os estudantes dessem algumas sugestões de nome para ela. Percebemos que, de início, eles estavam um pouco envergonhados, talvez por não crerem que tinham autonomia para isso. Mas passado esse momento, que foi rápido, a turma começou a falar, a gritar, indisciplinadamente. Por fim, o quadro foi tomado por títulos como: “Treta, Treta News, O quê?, Arroz Feijão e Batata, entre outros”). Houve muitas abstenções, mas o título escolhido foi o último citado acima. A professora regente estava presente.
Sem saber o que aquele título (arroz, feijão e batata) significava, pedimos para que algum aluno que o escolheu explicasse o motivo. Um aluno logo levantou-se e contestou a escolha. Nós achamos estranho e dissemos a ele que foi decidido de forma democrática. Foi então que esse mesmo aluno nos alertou dizendo que o título se tratava de uma música pornográfica. Ficamos paralisados, não esperávamos isso. Enquanto isso a turma decidiu optar por outro título, assim o nome escolhido foi “TV O QUÊ?”.
Dando continuidade, os alunos se reuniram e discutiram as escolhas temáticas que fizeram. Passamos por todas as equipes tirando dúvidas e dando sugestões de pesquisa e ações. Em seguida, não havendo mais nenhuma questão, segundo os alunos, finalizamos este primeiro encontro, deixando claro que as apresentações seriam na próxima semana, eles acharam o tempo curto, mas não tínhamos escolha.
No segundo encontro de apresentações, uma semana depois, antes de entrarmos em sala alguns alunos já nos abordaram dizendo que não haviam feito a atividade, os discursos foram diversos: “Eu nem sabia quanto valia”, “eu não tive tempo”, “eu sair da equipe”, “eu esqueci o pen drive”, “ eu já estou passado/a.”
Ficamos um tanto quanto surpresos. Tivemos uma boa aceitação no primeiro encontro, esperávamos que todos apresentassem. Apenas três equipes apresentaram. A temática de Filmes, exposta apenas por um alunos em que este fez uma seleção de dois filmes de ação populares. Ele trouxe os trailers, e os exibiu. Exemplificou bem o que queria, mas ficou um pouco receoso em falar sobre eles. O som também o prejudicou, pois o da escola estava com problemas e passamos no próprio computador. No geral, a sala se comportou e prestou atenção.
Em seguida, vieram os alunos que apresentaram sobre moda. Eles resolveram fazer um desfile de anos 80 e da atualidade. Duas alunas apresentaram adequando-se ao contexto de fala da temática, elas confeccionaram microfones e estavam bastante empolgadas. Os demais apenas desfilaram e exibiram seu figurino, assim também como “caras e bocas”. Foi interessante observar que outras equipes se entrosaram em ajudar no figurino, na organização das entradas, etc. Percebemos também o cuidado de pesquisar e tentarem chegar o mais próximo do estilo da época em que fariam a demonstração.
A Terceira equipe, que escolheu a temática de dança, dançou uma música atual, vimos que elas se prepararam bem para dançar, mas não fizeram introdução apresentando-se a si mesmas, estilo, nome da música, etc.
No geral, as apresentações foram boas. A turma estava bastante agitada e aqueles que não se prepararam estavam dispersos, mas participaram como espectadores, aplaudindo quando gostavam do que viam e criticando como todo comentarista crítico. Nesse dia a professora não estava presente, talvez por isso estivessem mais “soltos”.
A professora compareceu ao final da aula, e deu a oportunidade aos alunos que não haviam se preparado, de se apresentarem na próxima semana, em apenas uma aula, também deu a oportunidade de fazermos uma reflexão e um fechamento com eles.
No terceiro e último encontro, tivemos mais três equipes. A primeira dupla trouxe um vídeo com as músicas sertanejas mais populares do país. Apenas uma aluna, muito timidamente, fez a apresentação das músicas. A turma, demostrou não ter gostado da seleção, conforme as canções foram passando, os espectadores faziam comentário do tipo: “Cadê as músicas?”, “Isso é música?”, “Cadê as músicas boas?”, “Até que enfim uma que presta”. A aluna/apresentadora ficou um pouco constrangida pela seleção que trouxe, por isso, nós a ajudamos dizer que cada um tinha um gosto musical, que há uma diversidade de música justamente para que escolhamos as que mais nos agradam.
A segunda equipe veio com uma dança, duas das alunas, inclusive, já haviam apresentado na semana passada, segundo elas, era a continuação. Exibiram-se da mesma forma e foram muito aplaudidas pelo público.
A terceira e última equipe veio com a uma surpresa e alívio para nós. No decorrer das apresentações, nos perguntamos muito se eles tinham realmente entendido a proposta de intervenção, porque nas equipes que até aqui se apresentaram, havia faltado uma interação maior com a comunidade. É certo que no próprio espaço escolar eles chamaram atenção de colegas de outras turmas (que por sinal, os prestigiaram, mas foram convidados pela professora regente a se retirarem da sala, visto que naquele momento estavam tendo outra aula), porém, faltou a interação com a família, com mais leituras, com o entorno escolar, etc. Percebemos que eles conseguiam estabelecer essa relação. É como se não fizesse sentido algum. Mas voltando a equipe final, elas conseguiram. Elas produziram um vídeo jornalístico, com linguagem adequada ao contexto, fizeram leituras e pesquisas, deram opiniões, se mostraram compromissadas com o trabalho e isso nos contagiou.
A equipe de Jogos e games não conseguiu apresentar e alguns alunos também não se entrosaram a participar. Mas podemos que concluir que foi uma experiência marcante, em que pudemos vivenciar alguns conhecimentos adquiridos somente com a prática. Exercemos a paciência, a confiança um no outro, a proeza de ensinar e aprender junto com eles. Foram momentos, que pela pouca experiência, nos fizeram hesitar em alguns aspectos teóricos e nos fez pensar que em sala de aula devemos estar preparados para tudo. E muitas vezes essa preparação, significa estar livre, livre de pré-julgamentos, de más expectativas, de preconceitos, enfim.
Nos pegamos preocupados com o “barulho” que os alunos fizeram durante a trilha, por vezes fomos alertados pela professora a atribuir menos liberdade a eles e mostrar-lhes mais imposição. Uma funcionária da escola chegou a ir na sala e pedir que eles se comportassem melhor enquanto estivéssemos lá. Nós agradecemos a preocupação, mas dissemos que aquela agitação fazia parte do processo, era um movimento de interação e de conversa.
Aparentemente, a sala parecia estar fora de controle, mas a participação intensa dos estudantes é um momento especial da trilha. Segundo Sandenberg, “Não é possível esperar que os estudantes permaneçam todo o tempo silenciosos ou organizados da mesma maneira; Uma diversidade de ritmos se justapõe em qualquer agrupamento humano [...]”.
Foi relevante a atividade da trilha educativa, e entendemos que é um processo contínuo. A partir desta que fizemos, podemos refletir para uma outra e sempre buscando se aprimorar em nossas ações, a partir dos aprendizados adquiridos em diferentes espaços.
CONSIDERAÇÕES
Depois de refletirmos e analisarmos a prática docente é necessário, segundo Pimenta e Lima,(2012) intervirmos a fim de que se possa transformar a realidade, pois não é suficiente que apenas observemos selecionando pontos negativos e positivos, mas sim dando contribuições as práticas que funcionam de maneira eficaz, reelaborando aquelas que não obtiveram bons resultados.
O estágio é também uma oportunidade de aprendermos a relacionar a prática com a teoria concomitantemente, e adquirirmos experiências baseadas em nossas reflexões, para que, desde já, construamos nossa identidade docente e tenhamos noção dos desafios, e das infinitas possibilidades de crescer dentro da profissão. A nossa reflexão não foi feita com a intenção de criticar a prática docente, mas contribuir para ela. Pensando em todas essas questões analisadas foi que decidimos fazer a “Trilha educativa” nessa sala[ qual?] e os resultados serão analisados em uma etapa à parte. O foco aqui é evidenciar o quanto a reflexão foi importante para a nossa formação humana, docente e profissional. Em todo o tempo tivemos que refletir, refletir sobre a nossa reflexão, refletir sobre a ação que deveríamos fazer e refletir sobre os resultados dessa ação. Ou seja, uma prática cíclica: ação - reflexão- ação. Como diz sabiamente Telma Vaz (2002), “Todo professor ou professora deve ter em sua atuação a dimensão investigativa, tornando os elementos de sua prática objetos de análise e reflexão”.
Pudemos perceber também a diversidade existente numa mesma escola, numa mesma turma e enxergamos que esse é um dos maiores desafios na docência. É um trabalho que demanda tempo e muito esforço, sobretudo amor, para saber lidar com as adversidades. Ser professor é estar num lugar de conflitos, mas é necessário lembrar que são a partir deles que desenvolvemos nossa identidade, entre erros e acertos. É preciso estar atento para uma mediação didática significativa que seja motivadora, inovadora, subsidiada por estudos teóricos e pela vontade de querer sempre mais e melhor.
REFERÊNCIAS
BARREIRO, Iraíde Marques de Freitas; GEBRAN, Raimunda Abou. Prática de ensino e estágio supervisionado na formação de professores. São Paulo: Avercamp, 2006.
BRASIL, Maria Ghisleny de Paiva. Estágio e Reflexão docente na trajetória da formação.
PIMENTA, Selma Garrido. LIMA, Maria Lucena Socorro. Estágio e Docência. 7. Ed- São Paulo: Cortez, 2012.







