


TECENDO A TRAJETÓRIA DA VIDA
Qual o sentido da vida? Pergunta rotineira para muitas pessoas, inclusive para mim que sempre me questiono o real sentido de estar aqui, neste mundo, de ter sido escolhida por Deus para viver. Mas viver o quê? Como será meu futuro? Qual profissão terei? Realizarei meus sonhos? De algumas coisas tenho convicção, dentre elas a que fui escolhida para viver entre as pessoas que amo, para realizar os meus sonhos e para viver tudo que vivi, tudo que Ele preparou e tem preparado (acho até que respondi, em parte, pela primeira vez, o meu questionamento de muitos anos), mas o futuro é imprevisível, “o futuro a Deus pertence”, creio que a mim também, pois devo viver o presente planejando o futuro. E se o futuro não chegar? E se chegar, mas não for o que você esperava? Acredito que viverei o que tiver de ser vivido e se o futuro não for do jeito que esperava, assumo minha parcela de culpa por não ter persistido, por ter fraquejado nas minhas realizações pessoais. Talvez o presente seja mais importante do que o futuro.
Bom, eu me chamo Joiane Santos Freitas, nascida em 13 de abril de 1995, sou uma garota muito contraditória, indecisa (vocês devem ter percebido pela leitura do primeiro parágrafo). Sou filha de Josué Araújo de Freitas e Alzemira Santos Brito, tenho dois irmãos, Joalison Santos Freitas e Marcos Vinícius Santos Sá, e uma irmã Joinglede Santos Freitas – in memorian. Meus pais se separam quando eu tinha apenas 7 anos de idade, foi um período bem marcante e triste na minha vida, pois sempre tive e ainda hoje tenho admiração por demonstrações de amores fraternais e por família unida. Meu irmão Marcos é fruto de um segundo casamento da minha mãe que, no entanto, não perdurou.
Nasci na cidade de Capim Grosso, no interior da Bahia onde resido até os dias atuais. Tenho muito apreço pela minha cidade, pois nela vivi minha infância rodeada de amigos – primos – e colegas de escola, as ruas eram os palcos das nossas travessuras e brincadeiras. Mas, nela também passei por vários momentos difíceis, dentre eles a separação dos meus pais e reestruturação da minha família, o que me causou um amadurecimento precoce, e a perda da minha irmã, que deixou um enorme vazio nos corações de todos que com ela conviviam.
Sempre fui uma garota de poucos amigos e muitos colegas, isso não significa dizer que eu não queria tê-los como amigos ou achasse que todos eram só colegas, mas as situações (coisas de criança) nos definiam assim - meus amigos eram meus primos e meus colegas eram os da escola. Eu estudei até a 5ª série no Colégio Magali Carneiro, um dos primeiros colégios particulares da cidade. Foi esta escola que me ensinou e me formou grande parte do que sei e do que sou hoje, os colegas, os professores, o trajeto de ir e vir, todos esses fatores contribuíram para minha (pré) formação indenitária.
Ao fim da 5ª série, meu pai alegava dificuldades financeiras para continuar pagando o colégio e resolveu me tirar de lá. Fui estudar em uma escola municipal da cidade, o Tarcília Evangelista de Andrade, onde conclui o ensino fundamental II. A realidade da escola era bem diferente da escola anterior, mas isso não me atrapalhou, pois era de família humilde como a maioria dos que lá estudavam. A conclusão da 8ª série chegou e então mudei novamente de escola, dessa vez fui para um colégio estadual que oferecia ensino médio regular, o Edna Moreira Pinto Daltro. Ao fim do ensino escolar me arrependi, em parte, por não ter estudado em uma escola que oferecia curso técnico - mas, naquele tempo eu não tinha conhecimento sobre os cursos, muito menos o que era um curso técnico- porém, não podia desistir de tudo que eu já havia estudado.
O ensino médio foi uma época de grande aprendizagem, de descobertas e consolidação de escolhas e também de muita pressão, pois logo chegaria ao fim e eu deveria escolher qual profissão queria seguir. Tive, nesta época, grandes mestres, os quais me influenciaram nas minhas decisões futuras, em especial a minha professora de português Sandra Dias e o meu professor de matemática Rubenildo Rios, eles me proporcionaram bastante conhecimento e amor por essas áreas, e me incitaram na busca por mais, foram profissionais que sempre acreditaram na minha capacidade e reconheceram meu esforço e admiração por eles. O fim do 3º ano chegou e eu ainda não sabia o que queria (e acho que não sei até hoje), mas tinha grande afinidade com a área de exatas, gostaria de estudar matemática, mas o curso só era ofertado, por uma universidade pública, em Senhor do Bonfim, e minha família não tinha condições de me manter lá. A indecisão me consumia, eu não sabia qual curso queria, mas queria a todo custo ser uma universitária, até que decidi prestar o vestibular da UNEB, campus de Jacobina, para o curso de Letras - Língua portuguesa e literaturas – já que a prefeitura disponibilizava transporte todos os dias, no entanto, seria essa a minha melhor opção – depois, se eu não gostasse eu mudaria de curso.
Prestei o vestibular e às vésperas do resultado estava super ansiosa. Havia passado, conquistado uma vaga numa universidade pública e de grande reconhecimento, realizando um dos meus sonhos, não conseguia descrever a minha felicidade naquele momento. As aulas iniciaram e com ela a minha curiosidade. Como seria a universidade? Os professores, as disciplinas, os trabalhos, o meu desenvolvimento, tudo isso me despertava insegurança. O primeiro dia foi desesperador, sentir desejo de não mais retornar àquele lugar, era tudo muito estranho, muito complexo, muito novo e muito crítico.
O tempo de tensão passou e eu me acostumei com a rotina, a cada dia eu aprendia coisas novas e ficava encantada. Fui me apaixonando pelo curso que eu não queria, ou melhor, não sabia se queria, mas era o curso que estava predeterminado a fazer parte de mim, e eu dele. O primeiro semestre foi bem difícil, pois trabalhava o dia inteiro e não tinha muito tempo para as leituras, estudos e execução dos meus trabalhos. Resolvi sair do emprego e morar na cidade de Jacobina com uma amiga, assim teria mais tempo para me dedicar aos estudos e participar de cursos, eventos, vivenciar de perto a vida acadêmica. Trabalhei nesse período, pelo projeto Mais Educação, no Colégio Estadual Frei José da Encarnação, trabalho que custeou a minha permanência na cidade, me proporcionou o contato com a sala de aula, ensinando e aprendendo bastante com os alunos dali, e de onde partiu o meu despertar para a formação teórica docente que eu estava recebendo e atuação na prática, entrelaçada na vontade de fazer a diferença. Acredito ser esta a vontade dos estudantes de licenciatura, poder fazer a diferença na educação pública, vista como inferior, proporcionar aos alunos uma educação de qualidade bem como uma multiformação, embasada de letramentos múltiplos, sociais, políticos, ideológicos e didáticos, poder garantir aos alunos subsídios para que eles alcancem com êxito as profissões desejadas e sejam capazes de transformar suas realidades. O ano letivo da escola chegou ao fim, assim como a função que eu exercia, voltei para Capim Grosso, mas não pensei, em momento algum, em desistir do curso, mas sim continuar mais presente nele.
Outras oportunidades surgiram, dentre elas a monitoria para um curso de extensão, me inscrevi e por desistência da primeira colocada fui selecionada. O projeto de extensão Contação de Histórias em Hospitais de Jacobina é lindo desde sua elaboração até a prática e resultados. Foi e é um grande prazer participar, contribuir para a extensão da literatura a locais impensáveis, além de proporcionar prazer em momentos, até então, tristes.
Atualmente curso o V semestre, sou bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID - uma iniciativa para o aperfeiçoamento e a valorização da formação de professores para a educação básica - e monitora voluntária do Projeto Contação de Histórias em Hospitais de Jacobina; também atuo como membro do grupo de pesquisa Linguagens, estudos culturais e formação do leitor – LEFOR, o qual se ocupa das questões de linguagem e da formação do leitor no intuito de fomentar a discussão e a reflexão em torno das questões relacionadas à leitura enquanto prática cultural. Estes programas ao qual estou vinculada proporcionam conhecimentos diversificados e relevantes para a minha formação indenitária docente, uma vez que contribui de múltiplas maneiras para o aperfeiçoamento do exercício da minha prática, ou seja, o de ser professora, e em todo tempo aprendiz.
Contudo, acredito que seja esse o meu futuro, e digo com alegria que gosto bastante dele, ser PROFESSORA, e destaco-a pela sua real dimensão, pela beleza, esforço e trabalho transposto pela figura concreta do profissional, destaco-a por resistir em meio a tanta desvalorização e afirmo que é preciso ousadia para ficar ou permanecer ensinando. Sabemos que é a educação a grande responsável por subsidiar um futuro profissional e social dos estudantes e é nesta educação que encontramos os profissionais contribuintes para esse alcance, o profissional que pretendo ser. Uma professora.