Marta Silva Miranda, nascida em Jacobina, interior da Bahia, sempre estudei na mesma cidade, aderindo os vícios linguísticos, gírias provenientes do estado e a pronúncia nordestina. O que nunca foi um problema já que a pronúncia era a mesma para todos os alunos e docentes. Canceriana, bem sentimental, porém, bem confusa com o que cursar ou qual carreira seguir. Estudei até a 4ª série em duas escolas privadas, me recordo pouco das duas. Lembro que na Carolina Rocha escovamos os dentes na instituição e tinha um parque disputado para o uso. Me transferi para a Favo de mel porque ficava próximo da minha casa(ainda fica), que deve ser uma prioridade de muitas estudantes e/ou dos pais dos estudantes. Não me recordo se tive dificuldades de adaptação, nem dos métodos do ensino, lembro-me apenas que as professoras eram rígidas, na alfabetização éramos obrigados a “decorar” a tabuada ( algo que nunca fui boa) e a professora Tereza ( Diretora) nos perguntava para que todos pudessem ouvir. Isso não mudou nos tempos atuais. Minha letra era feia, e isso também não consegui modificar.
Na 5ª série fui para o Edivaldo Valois Coutinho, me lembro da primeira experiência com um colégio público, e não foi ruim como imaginava, o colégio era pequeno e todos se davam bem. O ensino era razoável e os professores dedicados, alguns poucos pareciam não ter uma boa didática, no entanto, sempre os respeitamos. Por algum motivo o colégio Edvaldo Valois Coutinho se uniu ao Colégio Frei José da Encarnação, o que não gostamos muito na época, as salas eram lotadas de alunos, que brincavam durante as aulas, e eram violentos com outros alunos e algumas vezes até com o docente. Nessa época nem chegava a imaginar que poderia estudar letras vernáculas, afinal eu gostava de história e amava as aulas práticas de Educação física, me recordo da professora até hoje, muito ativa e dedicadíssima. As vezes vejo ela correndo e sinto vontade de agradecer por ter sido uma lembrança boa do colégio Frei José, já que não tenho muitas boas recordações.
Por mais inacreditável que pareça, na sétima e oitava série eu acabei sendo o tormento das professoras e diretora do Frei José, de forma que minha avó (que me criou desde que nasci) foi chamada no colégio em média de 10 vezes. Felizmente isso mudou quando fui para o ensino médio no Colégio Estadual Professora Felicidade de Jesus Magalhães, ( minha mãe sempre escolheu os colégios que eu ia estudar, nunca pude optar em relação a instituição), e claro, ela priorizou a proximidade do colégio. No entanto, eu poderia optar estudar o curso técnico, mas escolhi o ensino médio comum. Estudei a primeira unidade no turno matutino, junto com amigos que herdei do frei José Porém, minhas notas foram péssimas em quase todas as disciplinas, isso porque eu conversava de mais. Logo minha mãe foi avisada e ela me transferiu para o turno vespertino, uma sala de contados 8 alunos. No Felicidade eu descobri o pesadelo que era química e física. Detestei e detesto. O professor de química enchia linguiça a aula inteira, sem falar que flertava com algumas alunas. Mas a professora de física era excepcional: Didática, explicava super bem e cobrava dedicação dos alunos, por tanto, eu exigia de mim. Porém, quando concluí o ensino médio, a primeira coisa que agradeci a Deus foi ter tirado essas disciplinas da minha vida, no entanto, a professora Zeniara foi um ponto positivo de espelho a ser seguido como docente. As disciplinas que mais me interessava era sociologia, história e língua portuguesa. Sociologia me ajudou muito na escrita e a ter noção crítica de tudo, principalmente em pontos políticos. Sou grata a disciplina de língua portuguesa e as professoras e estagiárias que me auxiliaram na ortografia, sintaxe, e a entender a construção de diversos textos. A universidade é um outro mundo, de forma que tudo no campus parece afirmar que sou ignorante, como se estivesse regredindo.
No segundo ano do ensino médio, eu fiquei pendente em alguma disciplina que não me lembro, acredito que geografia, o fato é que tive que “pagar matéria” no ano seguinte no Colégio Deocleciano Barbosa de Castro, o que foi frustrante, já que eu ia toda quarta feira 7:00 esperar uma professora que nem ministrava da disciplina chegar ás 9:00 e nos distraía com filmes sem nenhum tipo de reflexão posterior, de forma que a minha carência na disciplina não foi suprida. Só me fez utilizar o tempo que poderia estar engajada em projetos ou estudando, Já que estava no terceiro ano e iria fazer o vestibular.
No terceiro ano, a única coisa que pensava era faculdade. Eu já sabia que não poderia sair da cidade por motivos financeiros, por medo de deixar minha mãe/ avó que não era tão jovem e saudável e outros inúmeros motivos. Escolhi então a UNEB. Minha tia que já tinha terminado a graduação em Línguas vernáculas me aconselhou a não escolher esse curso, e acho que já sabem o final da história. Fiz o vestibular e passei. Primeiro lugar em línguas vernáculas. Não sei como esse fenômeno aconteceu, minha nota na dissertação foi ótima, comparado aos textos acadêmicos que escrevi na universidade.
No meu primeiro semestre resolvi ser professora de banca. Sem experiência nenhuma. Mas seria apenas professora de reforço. Certo? Errado. Muitos alunos aprendiam comigo, pois os assuntos eram passados a eles com um déficit terrível, de forma que até eu ficava confusa, consultava o amigo Google e percebia que o professor errara em diversos assuntos. Como a situação “dificultava” o meu trabalho e me atrasava para chegar ao campus, me sentia na obrigação de ter um contato com os professores. Essa comunicação era realizada através da agenda do aluno. Muitos até passaram a falar comigo pessoalmente, apontando qual a maior carência do aluno e o que eu deveria cobrar mais do mesmo.
No Segundo semestre eu consegui uma vaga no programa Jovem aprediz do SENAI em parceria com Yamana Gold. De imediato achei uma oportunidade ótima, já que teria a minha carteira (primeira vez) assinada, plano de saúde, salário acima de R$ 650,00, e uma experiência dentro de uma das grandes empresas , se não a maior empresas que move a economia de Jacobina. A experiência de fato foi ótima, sem falar que me ajudou muito financeiramente. Porém, essa escolha bagunçou completamente a minha vida acadêmica, tive que pegar todas as disciplinas fora do meu semestre. E percebi que existem outras áreas fora da docência que posso seguir, já que me identifiquei com o serviço médico(setor que fiquei dentro da Yamana).
A parir de então, passei a ter “crises existenciais” causadas pela minha vida acadêmica. Os sintomas permanecem até hoje. Ainda estou no dilema: Desistir X continuar. Aqui estou “empurrando com a barriga” até quando achar que estou progredindo/ aprendendo. No quinto semestre decidi ter minha primeira experiência dentro de uma instituição de ensino. Atualmente sou monitora do fundamental 3. Os alunos são muito carinhosos, algumas mães extremamente exigentes. Já recebemos muitas queixas via agenda escolar de cobranças absurdas e escritas de modo caçoísta. A professora regente me proibiu de oferecer água para os meninos em copos de cores “femininas” e vice-versa. E pouco menos deixa-los brincar com brinquedos do sexo oposto. O que nunca me acostumei, tentei mudar essa ideia, mas ela disse que são ordens dos pais. Espero apenas que as crianças não se tornem preconceituosas e conservadoras.
Não decidi se quero a docência como escolha profissional, no entanto, se essa for a minha destinação, desejo cumpri-la com dedicação. Porém, o que me interessa mesmo é o curso, e o conhecimento que posso extrair de professores tão bem formados. Afinal não é sempre que temos a honra de aprender com doutores, isso só acontece nas universidades.
Memorial de Formação

